Labor news

2015-02-10 - Corneta do Agro, Mercado Agrícola

Mercado de agroquímicos fitossanitários cresceu. Mas isso é uma boa notícia?

Segundo a AENDA "Os agroquímicos fitossanitários devem atingir faturamento de US$ 12,2 bilhões em 2014, conforme levantamento do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg). Com 6% acima do registrado em 2013, será a maior alta de todo o setor químico, representando o segundo maior faturamento da indústria de química fina.

“Estamos satisfeitos por fechar o ano com crescimento de 6%, mas cautelosos para 2015”, diz Eduardo Daher, diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). Apesar da declaração otimista do dirigente, o setor esperava aumento maior para 2014, de até 9%, mas o cenário sofreu influência de fatores negativos como a recuperação da safra norte-americana, altos estoques mundiais e estiagem prolongada no Brasil. De acordo com o Sindiveg, em 2013 houve maior incidência de insetos, o que impulsionou as vendas de inseticidas em 42% do segmento. Em 2014, a previsão é de essa comercialização tenha obtido uma fatia de 45%. De acordo com Ivan Sampaio, gerente da área de estatística da entidade, as culturas que utilizaram mais defensivos em no ano passado foram soja (52%), cana (10,1%), milho (9,5%) e algodão (9,1%). Esse mesmo ranking deve se repetir em 2014, com exceção do milho, em função da diminuição da área em 5%."

Nosso comentário:

Mais do que nunca sabemos da necessidade dos defensivos agrícolas. Estes foram os responsáveis pela revolução tecnológica pela qual a agricultura passou nos últimos 50 anos desde o advento do 2,4D em 1957.

Sabemos ainda do alto grau tecnológico e de desenvolvimento das indústrias de agroquímicos, principalmente aquelas desenvolvedoras de novas moléculas.

Sabemos do elevado grau de conhecimento e de treinamento que estas empresas fornecem a seus colaboradores e assim, na maior parte das vezes, agem de forma ética no mercado.

Apesar disto tudo, alguma coisa deve estar errada na agricultura brasileira.

O agronegócio comemora o aumento de vendas de agroquímicos. O diretor da ANDEF cumpriu seu papel.

Logicamente para a indústria, no que tange seu faturamento é um marco a se comemorar. Nunca antes na história deste país, conforme diria um ex-presidente, se vendeu tanto defensivo no Brasil. O faturamento cresceu de forma astronômica, embora os preços dos produtos tenham caído no mercado em geral. Isso explica um aumento incomensurável da quantidade de produtos aplicados e do interesse de tantas empresas virem para o Brasil, principalmente as chinesas agora que tem dominado o comércio de genéricos.

Por outro lado, só podemos concluir que a agricultura está doente.

Duas premissas podem ser colocadas.

Os preços das commodities agrícolas nunca foram tão altos no mercado internacional, assim os preços da soja, por exemplo, pagam qualquer custo com agroquímicos. Com a soja a R$ 60,00 o agricultor não se importa em gastar aleatoriamente. O produto paga o preço. O agricultor usa, embora na maioria das vezes, não precise do produto. Aplica por aplicar ou porque o vizinho aplicou e ele resolve experimentar. Sem medo de errar, penso que a maioria das aplicações é realizada sem necessidade, principalmente em relação aos fungicidas, com as famigeradas aplicações preventivas, sem a mínima hipótese de aparecer a doença. Mas por medo imposto pela mídia e pelo caos criado a respeito do assunto, o sujeito aplica para ficar dentro da maioria. Porque ser diferente e correr o risco?

O pior de tudo é que as próprias empresas oficiais de pesquisa incentivam a técnica e corroboram com o sistema.

A segunda é que toda a classe agronômica hoje está envolvida com as vendas destes produtos. Assim a norma é aplicar, na maioria das vezes sem o diagnóstico preciso do problema. A venda sai por telefone, depois o sujeito passa pra pegar a receita. Outra falácia é o tal receituário agronômico, um instrumento criado para dar um aspecto mais ético às vendas, mas que sabemos todos serve apenas para referendar o uso na maioria das vezes inadequado. As metas de vendas devem ser cumpridas e para tanto o uso deve ser incrementado. Há agrônomos que fazem dezenas de receitas por dia, como uma linha de montagem sem qualquer diagnóstico real dos problemas.

Segundo o artigo foram os inseticidas os produtos mais vendidos. Durante toda minha carreira acadêmica enquanto aluno na faculdade estudei o MIP. O MIP era a salvação da lavoura. Hoje fico frustrado quando vejo a nova geração de agrônomos que não tem nem ideia do que seja isto. Os agricultores também não estão preocupados. Este negócio é muito complicado, são necessários tempo e pessoas dispostas a procurar pragas. Isto toma muito tempo e tempo é dinheiro.

Atualmente o status de bom agricultor e que é considerado tecnificado, é aquele que usa muito fertilizante, faz várias aplicações de fungicidas, aplica muito herbicida sem necessidade e usa sementes tratadas, aliás com inseticidas e fungicidas e de preferência com uma marca com bom apelo de marketing como, ultra, plus ,top e outros. A bola da vez é a Helicoverpa.

As cooperativas que deveriam ser o elo do usuário com a tecnologia e uso adequado dos defensivos, não passam hoje de grandes revendas de produtos. Mantém um departamento técnico que mais vende do que dá assistência técnica e colaboram sobremaneira para o uso inadequado dos defensivos aumentando muito o seu mercado, logicamente batendo records de vendas. Vale ressaltar que muitas delas são os principais concorrentes das revendas que estão no mercado para este fim, que é a venda.

Assim, dado as facilidades que o agricultor procura, aliado ao despreparo da classe agronômica que estuda pouco, acha muito e vende mais ainda, só nos resta ver o aumento do uso de defensivos.

Logicamente neste ritmo, em 2015 vamos bater outro recorde de vendas e estaremos aqui junto com a ANDEF comemorando este fato. Realmente o Brasil é o maior do mundo em tudo. Agora também no mercado de agroquímicos.

Mas a agricultura está doente.

O que nos deixa mais indignados é que na nossa área (fertilidade e nutrição) que não é a doença e sim a saúde não costuma bater os mesmos recordes.