Labor news

2015-07-02 - Corneta do Agro

Seria mesmo o nematoide a causa da Soja Louca II?

Notícia publicada no site da Embrapa sob o título: "Pesquisa identifica provável causa da soja louca 2".

Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) identificaram a provável causa da soja louca 2, distúrbio que faz com que a planta não produza vagens, o que a impede de concluir seu ciclo. O nematoide Aphelenchoides sp. foi apontado em estudos como agente causador do problema e essa descoberta será apresentada no dia 24, às 15h, no VII Congresso Brasileiro de Soja, promovido pela Embrapa, em Florianópolis (SC).

As perdas nas áreas afetadas pela soja Louca 2 têm sido caracterizadas pela redução da produtividade em função do elevado índice de abortamento de flores e vagens e do alto percentual de desconto no valor da soja, devido a presença de impurezas, ou seja, pedaços de tecido verde e grãos podres, que propiciam apodrecimento da massa de grãos.

A incidência de soja louca 2 aumentou significativamente a partir da safra 2005/2006, principalmente nas regiões produtoras mais quentes do Brasil, nos estados do Maranhão, Tocantins, Pará e Mato Grosso. Os maiores índices de ocorrência da doença foram em anos com maior frequência de chuvas, na entressafra e início de safra.

Desde 2011, a Embrapa Soja (Londrina-PR) implementou um projeto de pesquisa multidisciplinar em parceria com várias outras instituições, com o objetivo de investigar as possíveis causas da doença e dar suporte ao monitoramento da ocorrência do problema no Brasil.

Essa pesquisa, identificou a presença sistemática do nematoide Aphelenchoides sp. nas amostras analisadas de tecidos de plantas com sintomas de soja louca 2, com maior concentração em nós reprodutivos e folhas sintomáticas.

O pesquisador da Embrapa Soja Maurício Meyer explica que os sintomas desta doença foram reproduzidos em plantas sadias, inoculadas com Aphelenchoides sp., indicando que a presença do nematoide tem implicações na manifestação do problema.

Segundo Maurício, após exaustivos estudos da doença, foram descartadas as hipóteses de possíveis causas por ácaros ou vírus. "Ainda não foi confirmada nenhuma das causas abióticas estudadas, tais como desequilíbrio nutricional, efeito de herbicidas e efeito de ambiente", ressalta. O estudo observou ainda que sistemas de cultivo com rigoroso controle de plantas invasoras, em pré e pós semeaduras, têm revelado maiores reduções da incidência de soja louca 2.

De acordo com a pesquisadora da EPAMIG Luciany Favoreto, amostras da parte aérea das plantas com sintomas de Soja louca 2 foram analisadas no laboratório de Nematologia da EPAMIG, em Uberaba, no período de março a junho de 2015. Segundo a pesquisadora, estes resultados foram muito importantes para a continuidade dos estudos. "Com uma população pura do nematoide foi possível realizar o estudo conhecido como 'Postulado de Koch', que preconiza que o patógeno vindo de uma cultura pura deve ser inoculado em plantas sadias da mesma espécie ou variedade na qual apareceu, e deve provocar a mesma doença nas plantas inoculadas.

Luciany explica que o patógeno puro foi enviado para o Maurício Meyer, que inoculou em plantas de soja sadias e observou que após 12 dias, as plantas começaram apresentar os mesmos sintomas das plantas doentes. "Estas plantas doentes foram-nos enviadas, e em análise em nosso laboratório, observou-se uma expressiva quantidade deste nematoide. Desta forma, provou-se que o Aphelenchoides sp. é o provável agente causador da Soja louca 2", diz a pesquisadora. Ela acrescenta que as populações puras, que estão sendo multiplicadas no laboratório de Nematologia da EPAMIG, em Uberaba, serão úteis para estudos posteriores sobre a patogenicidade e a taxonomia.

Segundo os pesquisadores, o próximo passo será implementação de novos estudos voltados para investigação dos aspectos da biologia do nematoide tais como as formas de sobrevivência, plantas hospedeiras alternativas, colonização e infecção na soja, para definir claramente as medidas de controle a serem preconizadas.

Nosso comentário: Segundo os pesquisadores, pelo teor do artigo, foi concluído que a mais provável causa do evento soja louca seja o nematoide Aphelenchoides sp. Dizem os pesquisadores que “A incidência de soja louca 2 aumentou significativamente a partir da safra 2005/2006, principalmente nas regiões produtoras mais quentes do Brasil, nos estados do Maranhão, Tocantins, Pará e Mato Grosso. Os maiores índices de ocorrência da doença foram em anos com maior frequência de chuvas, na entressafra e início de safra.”. Bem, dessa forma, passamos a colocar na balança alguns problemas abióticos, mas que, no entanto, os pesquisadores descartaram quando afirmam: “Segundo Maurício Meyer, pesquisador da Embrapa, após exaustivos estudos da doença, foram descartadas as hipóteses de possíveis causas por ácaros ou vírus”. "Ainda não foi confirmada nenhuma das causas abióticas estudadas, tais como desequilíbrio nutricional, efeito de herbicidas e efeito do ambiente", ressalta. Há uma contradição nestas afirmações, pois acima comentam sobre a presença de chuvas intensas antes da safra e logo após afirmam não haver efeito abiótico, reputando ao nematoide todas as possíveis causas do evento soja louca. Para um evento desta magnitude ocorrer deve haver uma mudança fisiológica importante. Para que a planta deixe de entrar em maturação e não complete o ciclo o mais provável é que deva haver alguma relação com o metabolismo do etileno, fato não aventado pelos pesquisadores, pelo menos não foi comentado na matéria. Sugeriria, pois, que se levassem em consideração os seguintes fatos: O etileno é o responsável pela maturação e para que a planta complete seu ciclo tem um precursor metabólico que é o acido Amino Ciclo Propano conhecido como ACC. Para que o ACC se transforme em etileno é necessária uma enzima cujo nome é a “ACC-oxidase”. Bem, uma enzima com o nome de ACC-oxidase sugere que é necessário oxigênio para que funcione, ou seja, o ambiente radicular deve ser aeróbico (Alto Potencial REDOX). Ressalta-se ainda que esta enzima seja afetada pela presença de ferro. Os pesquisadores relataram que em ano de soja louca as chuvas são intensas antes da safra. Ora, se chuvas são intensas, então, por conseguinte, o ambiente radicular tende a anaerobiose (Baixo Potencial REDOX) levando a não formação do etileno e assim freando o processo de maturação, propiciando o fenômeno. O efeito pode ainda ser nutricional. Vejamos, o precursor do etileno é a metionina. Este aminoácido essencial é um dos três aminoácidos que contem enxofre, além da cisteina e cistina. Assim, para sua síntese é necessário a absorção eficiente de enxofre. Acontece que as plantas só absorvem a forma aniônica deste elemento, isto é, o enxofre é absorvido como sulfato. (SO4)2-. Para que esta espécie iônica ocorra, é necessário haver um processo muito intenso de oxidação nos solos. Vejam que o sulfato possui quatro átomos de oxigênio, portanto, em condições de alta pluviosidade a tendência é de redução, diminuindo as chances de formação da espécie absorvível. O processo de redução pode ainda levar as perdas de enxofre por volatilização ou mesmo sua imobilização na forma de enxofre elementar, que não disponíveis às plantas. Com isto, devido às chuvas, principalmente em solos sob cerrados, onde ocorrem os eventos de soja louca, não sabemos se há relatos deste evento fora dos cerrados, pensamos que os efeitos abióticos são importantes e deveriam ser levados em conta nas pesquisas, antes de reputarmos toda a culpa ao pobre Aphelencoides sp. Não estamos aqui a duvidar que o nematoide não tenha lá sua parcela de culpa, mas seria interessante haver uma interação multidisciplinar para elucidar o fenômeno, pois há eventos fisiológicos que nem sempre nos dão certezas para afirmarmos as conclusões.