Labor news

2015-01-15 - Mercado Agrícola

A agricultura brasileira: entre as visões e a realidade

O Doutor em Ciências Econômicas Antônio Márcio Buainain, professor do instituto de economia da Unicamp e pesquisador sênior do instituto nacional de ciência e tecnologia em políticas públicas, estratégias e desenvolvimento (INCT/PPED) publicou recentemente um artigo no Portal KLFF que vale a pena ler, refletir e compartilhar para, quem sabe, mudar a forma como a sociedade vê o agronegócio.

"Não é exagero dizer que nos últimos anos a agricultura brasileira (e o agronegócio) tem “salvado a pátria”, gerando emprego, renda e divisas, produzindo alimentos baratos e seguros, matérias-primas para a indústria nacional, contribuindo para reduzir a pressão ambiental por meio do etanol, biodiesel e da energia elétrica, ocupando regiões da fronteira e oferecendo, de forma crescente, serviços ambientais que são cada vez mais estratégicos para o desenvolvimento sustentável em geral.

Para cumprir estes papéis o setor passou por grandes transformações, cujo eixo central foi a inovação em um sentido mais abrangente do que a introdução de novas máquinas e ou de sementes geneticamente modificadas, símbolos da modernização do moderno agronegócio. No livro O mundo rural no Brasil do Século 21: a formação de um novo padrão agrário e agrícola, recém-publicado pela Embrapa e pelo Instituto de Economia da Unicamp, sustentamos a tese de que tais transformações se traduziram em um novo padrão de organização e de acumulação, que tem o capital, em todas as suas modalidades, como elemento central. Neste novo padrão a oferta abundante de terra e mão de obra barata, que asseguraram o crescimento da produção na maior parte do século passado, perderam importância, e a sustentabilidade e rentabilidade da agricultura passou a depender, de forma crescente, dos capitais plasmados em máquinas, tecnologia, infraestrutura, de investimentos na própria terra – que se transforma em capital fundiário – e demais recursos ambientais, e da acumulação de capital humano.

A agricultura tem sido submetida a uma concorrência cada vez mais acirrada e a um conjunto de regras, com grau de exigência crescente, que dizem respeito ao comércio internacional, à seguridade e qualidade dos alimentos, ao meio ambiente, às relações trabalhistas e defesa dos animais e às demandas, preferências e exigências dos consumidores nos mercados locais e globais. Nesse contexto, as oportunidades são imensas, mas também o são os riscos, que aumentam pari passu com a intensificação do capital. A escala de produção é, sem dúvida, relevante, em particular para determinados sistemas produtivos nos quais o tamanho se traduz em considerável vantagem competitiva, mas os ativos-chaves dos agricultores de sucesso são a capacidade de gestão e de inovação, e aqueles que não tiverem e/ou não desenvolverem tais capacidades certamente serão expulsos do negócio.

A sociedade brasileira parece não ter compreendido que a agricultura de hoje rompeu com o passado, que o latifúndio improdutivo já é, em grande medida, parte da história, que as relações de produção espoliativas e a agressão ambiental são a exceção e não a regra. E ainda tende a ver o agricultor como um personagem atrasado e conservador, quando a realidade tem mostrado que a maioria é empreendedora e imbuída de espírito inovador, que tem faltado a uma parte do empresariado industrial."